EstimuLar

segunda-feira, 4 de abril de 2011

A gagueira na infância

Silvia Friedman

A gagueira na infância é uma manifestação que, como outras manifestações humanas, pode ser interpretada de diferentes maneiras. Desde o ponto de vista do senso comum, quando uma criança fala com repetições, prolongamentos e hesitações (que são as formas mais freqüentes de gagueira), como por exemplo: “que que que quero sair mamãe” aooooonde estamos?” esse o, o, o, o primeiro”. Com muita freqüência, os pais e outras pessoas da família, assim como os professores, acreditam ser bom e recomendável chamar a atenção da criança por este ato. Assim, solicitam à criança que fale devagar, com calma, que pense e respire antes de falar. Com isto podemos entender que as pessoas acreditam que o gaguejar necessita de correção e que, conseqüentemente, acreditam que esta não é uma forma adequada de falar. Reagem negativamente à ela. As próprias crianças reagem negativamente à gagueira de outras crianças, rindo ou imitando, porque é normal em nossa cultura, portar-se desta maneira diante de comportamentos que fogem dos padrões habituais.   
Partindo deste ponto de vista, há estudos em Lingüística (ciência que estuda a linguagem em sua manifestação escrita e falada) que se apóiam na observação dos modos de falar das pessoas e estes estudos nos mostram que as repetições, prolongamentos e hesitações são fenômenos comuns na fala de qualquer pessoa, em qualquer idade. Estes pequenos lapsos, nos ensina a Lingüística, são momentos de subjetivações que se processam enquanto se está falando. Momentos em que se busca uma palavra, se pensa na maneira de traduzir uma idéia ou sentimento em palavras, se sente ou se pensa algo simultaneamente ao que se está dizendo e assim sucessivamente. Estas subjetivações, impossíveis de serem evitadas, podem provocar as repetições, prolongamentos e hesitações. Se escutarmos atentamente a fala, não só de nossos filhos, mas também de outras pessoas, adultos ou crianças, inclusive a nossa, descobriremos que isto é verdade.
Se este tipo de relação de comunicação se apresenta de maneira consistente na vida de uma criança, como conseqüência, ele começa a temer sua maneira espontânea de falar. Começa também a adivinhar as palavras em que supõe, aparecerão problemas. Deste modo, o gaguejar que era natural, começa a ter um novo modo de funcionamento, que chamamos de gagueira sofrimento. Este novo modo se caracteriza pela sensação de medo de falar espontaneamente e por pensamentos de antecipação da ocorrência de problemas para pronunciar aquilo que, todavia, não foi pronunciado. As antecipações, por sua vez, são para o falante tentativas de solucionar problemas. Assim, ao falar, a criança sai do eixo da “emissão “ dos sons, onde sua atenção está nos significados, para ficar preso ao eixo das formas lingüísticas. A palavra perde seu valor simbólico e passa a ter valor de “coisa”; o som deixa de estar em uma cadeia com outros sons que se (deslizam) emitem automaticamente, inconscientemente e passa a constituir-se em um perigo sem saída. Então, os músculos que em outras muitas ocasiões produziram este som, repentinamente, não o fazem mais.

Para maiores esclarecimentos PROCURE UM FONOAUDIÓLOGO!

Nenhum comentário:

Postar um comentário