Autora: Cláudia Pietrobon
A primeira etapa do funcionamento verbal é a aquisição do significado. Nesta etapa, a criança adquire a noção e a função dos objetos que a rodeiam atribuindo-lhes um significado social. No início de sua interação com o meio ambiente, a criança não tem noção dos objetos, nem estes, despertam qualquer tipo de resposta emocional ou comportamental, pois não têm quaisquer significados. É através da observação e da experimentação que a criança relaciona os objetos aos seus respectivos significados.
A segunda etapa é a compreensão da palavra falada. Os objetos que adquiriam significado para a criança são associados aos seus nomes.
A terceira etapa é a expressão da palavra. Apesar da criança já ter adquirido o significado dos objetos e a compreensão da palavra falada, os sons emitidos por ela pouco se assemelham aos sons emitidos pelos adultos. É a partir desta fase, que o comportamento vocal (fala) da criança começa a se assemelhar à fala do adulto, pois a criança compara os sons que emite aos sons falados pelos adultos e imita-os.
Portanto, a fala se desenvolve por imitação e, é neste sentido, que uma criança surda, geralmente não passa da etapa do balbucio porque não consegue comparar nem imitar os sons emitidos por ela com as palavras faladas pelos adultos.
A quarta e quinta etapa é respectivamente, a compreensão da palavra impressa (leitura) e a expressão da palavra impressa (escrita). Estes seriam, portanto, os estágios superiores do desenvolvimento da linguagem.
Neste processo de desenvolvimento pode-se observar que as etapas que envolvem a "compreensão" são anteriores às etapas que envolvem a "expressão".
Aliada a seqüencialização destas etapas há a interdependência da mesma, acarretando com isso, que cada etapa do desenvolvimento verbal sofra influência da etapa anterior e influencie na etapa posterior. Desta maneira, qualquer dificuldade e/ou problema que por ventura afete uma determinada etapa, a posterior também será afetada.
A leitura envolve, primeiro a identificação dos símbolos impressos (grafemas) e o relacionamento destes símbolos com os sons que eles representam. No início do processo de aprendizagem da leitura a criança tem que diferenciar visualmente cada letra impressa e, perceber que cada símbolo gráfico tem um correspondente sonoro.
Se a associação entre palavra impressa e som não for realizada, a criança não poderá ler, pois as letras e as palavras não terão correspondentes sonoros.
Mas, para ler, não basta apenas realizar a decodificação dos símbolos impressos, é necessário que exista também, a compreensão e a análise crítica do material.
A compreensão não é nada mais do que relacionar as palavras que são decodificadas aos seus respectivos significados (objetos). Sem compreensão, a leitura deixa de ter interesse e de ser uma atividade motivadora, pois nada tem a dizer ao leitor. Na verdade só se pode considerar realmente que uma criança lê quando existe a compreensão. Quando a criança decodifica e não compreende, não se pode afirmar que ela esteja lendo.
A última fase do processo da leitura é a análise crítica acerca do material impresso que foi decodificado e compreendido. Ao se ler uma frase ou um texto, o leitor deverá reagir às idéias impressas, as reações podem ser emocionais ou intelectuais.
Independente do tipo de reação. Se for emocional, intelectual ou as duas, a análise do conteúdo lido é sempre feita partindo de referencias internos do próprio leitor. Cada indivíduo vai construindo, de acordo com sua experiência, um referencial de idéias e pensamentos servem de base para a realização da análise crítica.
A escrita é o ato inverso da leitura. Na leitura se estabelece uma relação entre palavra impressa-som-significado e na escrita a relação estabelecida é entre som-significado-palavra impressa.
Ao copiar, iniciamos uma discriminação visual de todos os detalhes das letras e do formato da palavra que está servindo como modelo. Depois relacionamos os símbolos impressos - as letras e a palavras - aos respectivos sons, aos movimentos articulatórios, aos movimentos gráficos (traçado gráfico a ser executado), aos significados (conceitos) e, só então, reproduzimos graficamente a palavra modelo.
No ditado, as palavras ditadas oralmente pela professora devem ser discriminadas e diferenciadas auditivamente pelo aluno, depois, são associadas aos significados, à sua forma gráfica (letras e sílabas que compõem a palavras ouvidas e seus respectivos traçados) e, são escritas, devendo-se respeitar a orientação têmporo-espacial. É através do processo de leitura que a forma gráfica das palavras vai ficando registrada na memória visual.
Na redação, as palavras são elaboradas mentalmente, associadas aos respectivos sons, aos significados, à forma gráfica e escritos.
É através da leitura que se percebe como se articulam as regras gramaticais e se aprendem novos estilos de escrita. Na redação, o escritor busca dentro de si as palavras adequadas para poder transmitir ao outro, aquilo que vivência e representam, no fundo, modelos interiorizados de inúmeras leituras que o escritor realizou durante a sua vida.
Pode-se concluir, portanto, que em qualquer uma destas modalidades de escrita percebe-se que a relação existente entre palavra impressa e som deve estar automatizada para permitir que a criança se expresse graficamente. Em outras palavras, a criança precisa saber ler para poder escrever. Se a criança lê com dificuldade ou ainda não aprendeu a ler, de pouco lhe adiantam os exercícios escritos já que, as palavras que ela escreve não têm correspondentes sonoros e, não são compreendidas.
Quando se fala em distúrbios de aprendizagem envolvendo a leitura e a escrita, é indispensável que se analise a leitura oral e silenciosa antes de se avaliar a escrita (cópia, ditado, redação), visto serem as dificuldades de escrita, na maioria das vezes, decorrentes de uma leitura lenta, analítica, impregnada de trocas de sílabas ou palavras, sem pontuação nem ritmo e, incompreensível.
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