Chupar o dedo, eis aqui um hábito muito relacionado com as
crianças pequenas, e que está presente literalmente desde o útero. É muito
comum que desde o ultrassom sejam captadas imagens do feto já tendo esse
hábito! “Os bebês têm desde antes do nascimento, um reflexo de sucção muito
forte, sugando tudo que surge próximo à sua boca”, explica o pediatra Sylvio
Renan Monteiro de Barros, da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da MBA
Pediatria. Esse reflexo é justamente para sua sobrevivência, já que dele
depende a amamentação, sua primeira forma de alimentação. Mas muitas vezes o
dedo pode ser uma boa opção para isso.
O normal é que esse reflexo primitivo desapareça com o
tempo, ao menos até uns 4 meses de idade. Mas com o tempo, ele vai adquirindo
significado. “Normalmente o ato de sugar o dedo no primeiro e segundo mês de
vida é puro reflexo e depois o bebê aprende a fazer isso até explorando os
movimentos mão-boca”, relata a fonoaudióloga Irene Marchesan, presidente da
Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa). Depois, a criança pode continuar
com o hábito por prazer ou por ter uma sensação de acolhimento.
Porém, o grande problema é que chupar o dedo causa diversos
problemas. “Se isso se prolonga, pode interferir no posicionamento dos dentes
quando eles começam a erupcionar ou até no crescimento dos ossos da face,
principalmente da maxila, já que o dedos mais sugado é o dedão voltado para
cima”, ensina a especialista. Distúrbios da fala também podem aparecer, com a
continuidade desse hábito.
Mas como fazer a criança largar o hábito? “Só se consegue
retirar mesmo o hábito se a criança tiver força de vontade para isso. Da mesma
forma que funciona com adultos que são motivados a abandonar um vício, é
preciso motivar seu filho para a mudança”, acredita Sylvio Renan. Existem
diversos métodos e quanto mais tarde são aplicados, mais difícil a adesão.
Listamos alguns para você testar qual funciona melhor com seu filho.
Troque por uma chupeta
Quando o ato de sucção ainda é um reflexo primitivo, o dedo
não é exatamente o foco. Nessa época, vale trocar por uma chupeta, que é mais
anatômica, causando menos males à boca e aos dentes da criança. Além disso, os
especialistas concordam que é muito mais fácil descontinuar o hábito da chupeta
do que o do dedo. “Com a chupeta você negocia, pode dizer que vai dá-la de
presente para as crianças carentes, por exemplo. Você tira da criança, e por
mais que ela chore por dois ou três dias, ela não tem o objeto em frente a ela,
então vai aceitando. Como o dedo não tem como ser afastado, está sempre à mão”,
explica o pediatra Sylvio Renan.
Não
deixe de dar de mamar
O reflexo é justamente para favorecer a amamentação. “A
criança que mama ao seio, muito raramente desenvolve o hábito de chupar dedos”,
acredita o pediatra Sylvio Renan. Muitas vezes, quando a mãe tem muito leite ou
ele é ofertado de uma forma mais fácil, a necessidade de sucção ainda assim não
é sanada, o que pode levá-lo a querer chupar o dedo. Uma solução, portanto,
pode ser essa mãe ordenhar um pouco seu leite antes de dar de mamar, o que vai
dificultar o trabalho e fazê-lo sugar mais para conseguir o leite. Muitas vezes
a criança pode também simplesmente ficar sugando o seio da mãe sem puxar leite,
o que também deve ser desencorajado, de acordo com a fonoaudióloga Irene
Marchesan.
Observe
o hábito durante a noite
“Quando a criança fica maior e continua sugando o dedo, pode
fazer isso por puro prazer ou até para ter uma sensação de acolhimento ou
simplesmente para adormecer”, considera Irene. Nos últimos casos, em que o
hábito a ajuda dormir, os pais podem tentar desencorajá-lo retirando o dedo do
bebê durante o sono. Claro que nem sempre ele tem consciência de que faz isso
dormindo, como sublinha o pediatra Sylvio Renan, então é um método que nem
sempre funciona, mas pode ajudar.
Ocupe
as mãos do seu filho
Quando a criança se concentra em atividades com as mãos, a
necessidade de chupar o dedo é deixada de lado. Portanto, dar a ele
brincadeiras que o distraiam, ocupem sua mente e também suas mãos, pode ajudar
a criança a largar o hábito. Com crianças pequenas, isso é mais complicado. “O
ideal são atividades com brinquedos de montagem, que precisam de concentração e
habilidade manual”, explica Sylvio. Mas isso deve ser aliado a conversas com a
criança, pois quando ela parar com essa atividade, pode voltar a chupar o dedo.
Procure
as motivações da criança
Muitas vezes o ato de chupar o dedo é uma forma de seu filho
se sentir reconfortado. “Algumas crianças têm o hábito de chupar dedos por
ansiedade ou insegurança. Carinho e atenção são as melhores formas de
libertá-la desses sentimentos”, ensina o pediatra Sylvio Renan. Nessas horas,
vale observar em que momentos o pequeno, ainda mais ele se tiver mais de um ano
e meio, recorre a esse hábito e conversar com ele sobre essas situações,
tentando entender por que elas causam esse tipo de emoção e explicando que ela
não precisa ficar nervosa ou temerosa.
Brigar
não é a melhor opção
Por outro lado, sair brigando e discutindo com a criança
nunca é a melhor opção. “Chamar atenção para o fato com punições somente piora
o quadro”, ressalta o pediatra, até porque isso causará nos pequenos mais
ansiedade e medo. A atitude agressiva do pai nunca é recomendada. “Dizer não de
forma firme, substituir o hábito por outras atividades em que outras crianças,
os pais ou outros adultos estejam envolvidos pode ajudar muito mais”, acredita
a fonoaudióloga Irene. “É a firmeza dos pais com relação a hábitos que mais
produz resultados”, completa a especialista.
Negocie
horários e momentos
Já a negociação é muito efetiva, mas não com todos.
“Só dá certo com crianças mais velhas que já possam compreender o que lhes está
sendo falado ou proposto”, acredita Irene. Esse entendimento começa a partir
dos 18 meses, e para essas situações o pediatra Sylvio Renan ensina uma
estratégia. “Recomendo aos pais fazer um joguinho com a criança: desenhar em
uma cartolina um calendário, e marcar com uma estrela prateada cada dia passado
sem chupar o dedo. Três dias seguidos, por exemplo, merecem uma estrela
dourada, acompanhada de um pequeno presente”, ensina o médico, que reitera:
caso a criança não tenha bons resultados, é importante que os pais insistam e
não demonstrem frustração, pois isso pode piorar ainda mais o quadro, da mesma
forma que as brigas.
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