Comece por você, se reeduque,
pois daqui prá frente seu mundo será totalmente diferente de tudo o que
conheceu até agora. Se reeducar quer dizer: fale pouco, frases curtas e claras;
aprenda a gostar de musicas que antes não ouviria; aprenda a ceder, sem se
entregar; esqueça os preconceitos, seus ou dos outros, transcenda a coisas tão
pequenas. Aprenda a ouvir sem que seja necessário palavras; aprenda a dar
carinho sem esperar reciprocidade; aprenda a enxergar beleza onde ninguém vê
coisa alguma; aprenda a valorizar os mínimos gestos.
Aprenda a ser tradutora desse
mundo tão caótico para ele, e você também terá de aprender a traduzir
sentimentos, um exemplo disso: “nossa, meu filho tá tão agressivo”, tradução:
ele se sente frustrado e não sabe lidar com isso, ou está triste, ou apenas não
sabe te dizer que ele não quer mais te ver chorando por ele.
Você irá educar bem seu filho
se aprender a conhecer o autismo “dele”, pois cada um tem o seu próprio, mesmo
que inserido em uma síndrome comum.
Deverá aprender a respeitar o
seu tempo, o seu espaço, e reconhecer mesmo com dificuldades que ele tem
habilidades, e verá que no fundo elas são tão espetaculares!
Você irá aprender a se
derreter por um sorriso, a pular com uma palavra dita, e a desafiar um mundo
inteiro quando este lhe diz algum não.
Você começará a ver que com o
tempo está adquirindo super-poderes, e que a Mulher-Maravilha ou o Super-Homem,
não dariam conta de 10% do que você faz.
Você tem o super poder de
estar em vários lugares ao mesmo tempo, afinal escola, contra-turno, natação,
integração sensorial, consultas, fonoaudiologia, t.o, pedagoga, ufa…dar conta
de tudo isso só se multiplicando e ainda se teletransportando ! Você é a
primeira que acorda e última que vai dormir isso é, quando ele te deixa dormir,
e no outro dia tá sempre com um sorriso no rosto ao despertar do teu galã. Você
faz malabarismos e consegue encaixar o salário da família, em tantas contas e
coisas que precisa fazer, que só mesmo com super-poderes.
Você nota que seu cérebro é
privilegiado, embora você nunca tivesse imaginado que dentro de você haveria um
pequeno Enstein, pois desde o diagnóstico de seu filho, você já estudou:
neurologia, psiquiatria, pediatria, fonoaudiologia, pedagogia, nutrição,
farmácia, homeopatia, terapias alternativas, e tantas outras matérias. Você dá
aula de autismo, ouve muitas bobagens em consultórios de bacanas, e ainda
ensina muitos deles o que devem fazer ou qual melhor caminho a seguir para que
seu filho possa se dar bem. Ah… e a informática que anteriormente poderia lhe
parecer um bicho-de-sete-cabeças … à partir deste filho, você encarou, e domina
o cyberespaço como ninguém! São tantas listas de autismos, blogs, facebook,
orkut, twitter … ih … pesquisa no google então, já virou craque, ninguém
encontra nada mais rápido que você !
Uma hora você verá o que essa
“reeducação” proporcionou a você, pois hoje você é uma pessoa totalmente
diferente do que era antes de ser mãe de um autista. Nossa como você mudou,
hein? E topará com a pergunta que não quer calar: “como devo educar meu filho
autista?” Olhará ao redor, olhará para seu filho e perceberá que ele também
está diferente, que ele cresceu, que já não é tão arredio, que as birras já não
se repetem tanto, que ele até já te joga beijos! Que aquela criança que chegou
solitária na escola, hoje já busca interagir, e já até fez algum amiguinho. Que
ele já está aprendendo “jeitinhos” de se virar, e nem te requisita tanto mais.
Então, chegará a conclusão que mesmo sem saber responder a tal pergunta, você
tá fazendo um bom trabalho, e que ninguém no mundo poderia ser melhor mãe/pai
que você para esse filho!
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